A inteligência no coração da estratégia
O que acontece quando todos estão gritando?
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Existe uma confusão perigosa no mercado atual. Confunde-se correria com progresso e volume com relevância.
Se você abrir o LinkedIn agora, será bombardeado por um vocabulário muito específico: performance, growth, scale-up, data-driven. São termos sedutores porque prometem velocidade e resultado. O problema é que, na ânsia por essas métricas, o mercado parou de olhar para o que vem antes delas: a inteligência.
Não estou falando (apenas) de inteligência artificial ou de algoritmos complexos. Estou falando da inteligência no seu sentido clássico e estratégico: a capacidade de investigar e entender cenários, cruzar referências, identificar padrões e, só então, agir.
Hoje, valoriza-se a execução frenética, mas executar rápido a estratégia errada é apenas a maneira mais veloz de falhar.
A lição do Jazz: o improviso nasce do domínio
Gosto muito da analogia com o músico de Jazz para ilustrar esse ponto.
O Jazz é um estilo musical famoso pelo improviso. Para um observador desatento, pode parecer que o músico está apenas “criando na hora”, confiando na intuição ou no talento bruto. No mundo corporativo, isso seria o equivalente ao “fazer acontecer” sem planejamento.
Mas a realidade do Jazz é oposta.
O improviso de qualidade não nasce da falta de preparo.
Ele nasce do domínio absoluto.
O músico estudou a harmonia, entende a matemática da escala e domina a linguagem do instrumento. É justamente por ter essa base sólida, essa inteligência prévia sobre o maior número de rotas possíveis, que ele consegue navegar por caminhos novos, improváveis e criativos durante a execução.
No negócios, a lógica deveria ser a mesma. Precisamos de agilidade e capacidade de adaptação (o improviso), mas isso só gera valor se estiver alicerçado em um entendimento profundo do negócio e do cliente.
Sem isso, não tem música. É só barulho.
Dados são ingredientes, inteligência é o prato
Aqui preciso fazer uma distinção vital, especialmente em um momento onde todos se dizem “guiados por dados”.
Há um mito de que ter acesso a dashboards e relatórios é garantia inteligência. São informações, mas não trabalham sozinhas.
Dados são excelentes ingredientes, mas é necessário uma estratégia que seja capaz de combiná-los na construção de uma solução ideal para o problema a ser resolvido.
A verdadeira inteligência estratégica usa os dados, mas vai além deles. Ela se manifesta na capacidade de articular diferentes saberes para resolver um problema complexo:
ela usa a análise de dados para saber o que está acontecendo;
ela usa os estudos de comportamento de consumo e o olhar humano para entender por que está acontecendo.
Ela usa metodologias de Design para projetar como resolver.
A inteligência não é o software. É o racional que olha para um conjunto de informações e enxerga um comportamento por trás dele.
Um exemplo prático: do dado frio ao insight
Para tangibilizar, imagine o clássico problema do “carrinho abandonado” no e-commerce.
O dado: o relatório aponta que 70% das pessoas desistem da compra na última tela. A reação automática da performance é disparar e-mails de remarketing ou dar descontos agressivos. Isso é reagir, não pensar;
A inteligência: o estrategista decide investigar. Ele observa o comportamento do usuário e percebe que a desistência não é pelo preço, mas porque o cálculo do frete só aparece no final e o prazo de entrega é vago;
A solução: o cliente não queria desconto. Ele queria transparência e confiança. A inteligência sugere mudar a arquitetura da informação, não o preço.
Margens de lucro mantidas, negócio segue saudável e aumenta a possibilidade de recompra, tornando o negócio ainda mais lucrativo no longo prazo.
Enquanto a ferramenta apontou o sintoma, a inteligência diagnosticou a doença e prescreveu a cura correta.
Ser o Ideal em vez de ser incrível
Essa busca pela inteligência nos leva a um novo tipo de ambição. O mercado nos pressiona a sermos “incrivelmente grandes” ou “absolutamente inovadores”.
Mas a inteligência estratégica busca algo mais refinado: ela busca ser o IDEAL. O ideal para aquele cliente, para aquele momento de vida, para aquele problema específico.
Fazer sentido antes de fazer barulho é sobre isso.
É ter a precisão de falar a coisa certa no ouvido de quem precisa ouvir, em vez de gritar generalidades em uma sala lotada.
Quando você acerta o seu posicionamento, o seu tom e a sua entrega de valor com base em estudo e profundidade, o seu público começa a valorizar você. Não porque você é o maior ou o mais barulhento, mas porque, em meio a tanta confusão, você foi quem fez sentido.
Para os pequenos e médios negócios, tentar ganhar no grito contra os gigantes é uma estratégia falida e cara. O caminho viável é ganhar na inteligência.
É entender o seu cliente tão bem que é você quem ele quer ouvir primeiro.
Pitadas de provocação para todos
Falando em vozes que merecem ser ouvidas com atenção, convido vocês a conhecerem uma newsletter especial, criada por alguém ainda mais especial: minha querida esposa.
A Yo Soy Loca é uma comunidade que transforma vulnerabilidade em potência criativa e humor. É um movimento leve e necessário, que celebra nosso lado imperfeito, múltiplo e autêntico.
Afinal, o extraordinário acontece no ponto exato onde razão e loucura começam a colaborar 😉
Nos vemos em breve!




Que assunto importante, Felipe. Está ótimo mesmo, mas merece mais atenção, viu. Você fala muitas verdades nesse texto. E quando se tem muita verdade, é bom repetir por outro ângulo. As pessoas se acostumaram com as mentiras do dia a dia... qdo chega a verdade, não consegue assimilar. Tbm vi a newsletter da sua esposa. Adorei. Valeu!