Coerência não é prisão: a coragem de recalcular a rota
Honrar o que você construiu não significa permanecer onde já não faz sentido.
Nossa vida profissional não é uma linha reta. É feita de fases, desvios, desencontros e reencontros com nós mesmos.
E, se existe um fio condutor que dá sentido a essa narrativa, ele é tecido por duas forças: valores e propósito. São eles que mantêm coerência na caminhada, mas que, ao mesmo tempo, não podem se tornar algemas que nos prendem a um caminho que já não é saudável.
Semana passada, dei uma palestra em comemoração ao Dia do Estagiário para o Detran de Rondônia, com cerca de 150 jovens no Teatro Guaporé, em Porto Velho. Ao pensar sobre a palestra, me vieram as reflexões desse texto.
No início da carreira, ainda durante o estágio, carregamos um pouco do “vício” da adolescência: a busca por aceitação. Queremos nos encaixar em tribos, em grupos, ser parte de algo. É natural. Mas esse também é o momento em que o mercado começa a exigir o oposto: diferenciação. É quando precisamos começar a mostrar o que nos torna únicos. Não para sermos “melhores” do que alguém, mas para sermos reconhecidos e valorizados pela singularidade que trazemos.
Com o tempo, percebemos que um profissional é valorizado por três grandes pilares:
conhecimento técnico: a base que sustenta sua autoridade;
capacidade de resolver problemas e gerar recurso: a tradução prática de sua relevância;
responsabilidades que assume: o nível de confiança que conquista ao longo da jornada.
A forma como comunicamos tudo isso, de maneira clara, acessível e relevante para quem nos contrata, é uma arte subestimada. É sobre ser bom, sobre parecer bom, mas vai além disso. É preciso ser reconhecido e valorizado como a escolha ideal e possível para aquela função específica.
É preciso falar uma língua que o outro entenda, sem perder a autenticidade do que se é.
À medida que avançamos, descobrimos que o mercado não premia apenas quem sabe, mas quem sabe, mostra e se adapta. O diploma, a técnica e os números importam, mas raramente falam sozinhos. O que realmente cria reconhecimento é a narrativa: a habilidade de conectar suas experiências, escolhas e aprendizados a algo maior, que tenha relevância para quem o observa. Essa narrativa não é uma peça de marketing pessoal vazia, mas um reflexo dos valores que você decide defender.
Aqui existe uma armadilha silenciosa: confundir coerência com prisão.
Muitos profissionais permanecem em caminhos que não os nutrem mais apenas porque acreditam que precisam “manter a linha”. Só que consistência não significa imobilidade. É possível honrar o que você construiu até aqui sem precisar se acorrentar a ele. Valores e propósito não são uma camisa de força: são uma bússola. Servem para orientar, mas não para proibir.
Carreira é movimento. Às vezes avançamos, às vezes fazemos pausas, outras vezes recalculamos a rota. O importante é perceber que cada decisão precisa estar alinhada não apenas ao que o mercado espera, mas ao que faz sentido para você enquanto ser humano. Afinal, o trabalho ocupa boa parte da nossa vida e não faz sentido prosperar por fora enquanto murchamos por dentro.
Talvez o maior segredo de uma trajetória sólida esteja em cultivar essa habilidade dupla: ser consistente sem ser rígido. Comunicar de forma clara suas competências e responsabilidades, mas também ter coragem de ajustar a rota sempre que necessário. Crescer profissionalmente não é acumular cargos e conquistas apenas; é aprender a traduzir o que você faz em valor para os outros, sem abrir mão de preservar valor para si mesmo.
No fim, o que fica é a história que contamos sobre nós.
Essa história não precisa ser linear para ser poderosa: basta ser honesta, coerente e aberta às transformações que a vida nos sugere.
Ótima semana!
Nos vemos em breve 😉
Felipe Gondin
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