Como diferenciar ruídos de tendências
A sensibilidade para ouvir o que realmente importa.
Vivemos na era do barulho.
Todo dia surge uma nova promessa de revolução: uma tecnologia que “vai mudar tudo”, uma tendência que “você precisa acompanhar”, um vídeo transformador com um segredo e que “logo sairá do ar”.
No meio dessa avalanche, as marcas (principalmente as pequenas e médias) se veem presas entre dois medos: o de perder o timing e o de apostar no que vai sumir antes sequer de pagar o investimento.
Mas e se, antes de correr atrás do novo, a pergunta certa fosse outra:
isso é um ruído ou uma tendência?
A diferença entre o som e o sentido
Ruídos são sinais superficiais.
São movimentos que ganham visibilidade rapidamente, mas nem sempre carregam substância suficiente para transformar um mercado. Já as tendências são padrões sustentados: mudanças mais lentas, profundas e consistentes que se conectam a valores humanos e transformações culturais.
O problema é que, no começo, elas soam iguais.
Quando o TikTok começou, muitos viam como coisa de adolescente dançando. Quando o ChatGPT apareceu, muita gente tratou como uma curiosidade passageira. Em compensação, quantas “redes do futuro”, metaversos e clubhouses já prometiam o mesmo e desapareceram no ar?
A diferença não está no volume do barulho, mas na frequência da mudança.
Tendências emitem um som contínuo; ruídos são picos.
E é preciso sensibilidade para ouvir isso.
Como perceber uma tendência chegando
Você não precisa de um laboratório de futurismo para perceber uma tendência, se desenvolver a escuta certa:
Observe os extremos: as tendências quase sempre nascem nas bordas, em subculturas, nichos e experimentações que parecem irrelevantes. É lá que o futuro costuma dar seus primeiros sinais;
Procure recorrência: se algo aparece em contextos diferentes, de forma orgânica e em regiões ou segmentos distintos, há algo mais ali;
Entenda o “porquê”: a pergunta mais poderosa não é “o que está acontecendo?”, mas “por que isso está acontecendo agora?”. Tendências reais respondem a tensões culturais ou comportamentais latentes;
Aplique o teste da relevância: a mudança faz sentido para o seu público? Está alinhada com o seu propósito e posicionamento? Ou você está apenas cedendo à pressão do mercado?
Identificar tendência não é prever o futuro. É perceber o presente com profundidade.
Testar rápido, errar pequeno
Ao perceber um movimento que pode ser relevante, o desafio passa a ser: como investir sem arriscar demais?
Aqui, o segredo é pensar como um laboratório: pequenos testes com alto poder de aprendizado.
lance uma versão mínima da ideia (MVP) para um grupo restrito de clientes fiéis;
meça não só o resultado, mas o engajamento: o quanto as pessoas se conectam à proposta, falam sobre ela e voltam;
observe o comportamento, não as opiniões. Pesquisas dizem o que as pessoas acham que fariam; dados mostram o que elas realmente fazem.
O problema não é errar: é errar caro e lento.
O perigo do “todo mundo está fazendo”
Poucas coisas são tão perigosas para uma marca quanto o medo de ficar de fora.
“Se meus concorrentes estão fazendo, devo fazer também” é uma lógica que transforma posicionamentos únicos em mais uma empresa.
Quando você se move apenas porque o mercado está se movendo, perde a capacidade de escolher o próprio ritmo. E a verdade é simples: nem toda onda é para ser surfada.
O posicionamento serve justamente como bússola para saber quais movimentos fazem sentido e quais apenas fazem barulho. Ele ajuda a responder, com serenidade:
— Isso tem a ver com o que acreditamos?
— Fortalece ou dilui nossa narrativa?
— Faz sentido para o tipo de cliente que queremos atrair?
Se a resposta for não, talvez o mais inteligente seja o silêncio.
Há momentos em que o ruído coletivo é tão alto que o som da própria marca se perde. E nessas horas, coerência é mais valiosa que atenção.
Estratégia como antídoto ao ruído
Tendências são oportunidades. Ruídos são distrações.
E a fronteira entre eles é definida pela clareza estratégica.
Empresas com posicionamento forte filtram o mundo com mais precisão.
Sabem o que buscam, entendem seu papel e reconhecem quando algo novo realmente conversa com essa essência.
Já as que vivem sem clareza correm atrás de tudo e acabam sem energia, sem identidade e sem foco.
Ferramentas para ouvir melhor o mercado
Você não precisa relatórios caros para perceber mudanças significativas. O segredo está em criar rituais de escuta. Aqui vão três locais para ficar de olho:
Google Trends: use para acompanhar o interesse por temas, comparar palavras-chave e detectar picos de busca que podem indicar mudanças reais no comportamento. É um termômetro gratuito e poderoso de curiosidade coletiva;
Comunidades de nicho: fóruns, grupos de WhatsApp, Discords e newsletters segmentadas são onde as tendências costumam nascer, muito antes de chegarem ao mainstream. Escute quem está apaixonado por um assunto: é nesses cantos que o futuro se forma;
Substack e creators de referência: criadores independentes são excelentes curadores do novo. Acompanhar quem observa o mundo com profundidade, e não apenas com pressa, ajuda a refinar sua própria escuta.
Para pensar:
Talvez o maior desafio não seja prever o que vem pela frente, mas construir marcas com sensibilidade o suficiente para ouvir o que realmente importa.
Afinal, entre o ruído e a tendência, existe uma escolha: a de fazer sentido antes de fazer barulho.
Nos vemos em breve!
Felipe Gondin


