Faça sentido antes de fazer barulho: um manifesto pela relevância
Em 1971, Herbert Simon cunhou um termo que se tornaria ainda mais relevante cinco décadas depois: economia da atenção. Simon argumentou que, em um mundo rico em informações, a atenção se torna o recurso mais escasso. Hoje, essa escassez atingiu níveis críticos.
O paradoxo do ruído digital
Números recentes da Hootsuite revelam que são publicados mais de 500 milhões de tweets (ou Xs), 95 milhões de fotos no Instagram e 720.000 horas de conteúdo no YouTube. Diariamente. Neste oceano de conteúdo, a estratégia de "gritar mais alto" não apenas se tornou ineficaz - tornou-se contraproducente.
McKinsey & Company identificou em seu estudo The Future of Marketing que 71% dos consumidores esperam que as empresas proporcionem interações personalizadas, e 76% ficam frustrados quando isso não acontece.
O barulho pelo barulho está gerando o efeito oposto ao desejado.
A anatomia do sentido
Fazer sentido no mercado atual requer três elementos fundamentais:
Clareza estratégica: o caso da Patagonia é emblemático: quando decidiu colocar We're in business to save our home planet em seu posicionamento, não estava apenas criando um slogan - estava definindo um filtro decisório para toda a organização. Em 2022, quando seu fundador transferiu a propriedade da empresa para um trust dedicado ao combate às mudanças climáticas, provou que posicionamento não é o que você diz, é o que você faz.
Propósito autêntico: Jim Collins, em Feitas para Durar, já demonstrava que empresas guiadas por propósito superam significativamente suas contrapartes no longo prazo. A Nike não vende tênis - ela celebra o potencial atlético humano. A Apple não vende tecnologia - ela capacita a criatividade individual.
Consistência executiva: A Natura não se tornou símbolo de sustentabilidade e inovação por acidente. Desde 1969, muito antes da pauta ESG se tornar mainstream, a empresa já trilhava um caminho único de consistência entre discurso e prática. Cada decisão do negócio - da escolha de fornecedores amazônicos ao desenvolvimento de refis (que começou em 1983), da política de não testar em animais ao cálculo de carbono em toda cadeia produtiva - reflete um propósito claro de sustentabilidade.
O custo do barulho sem sentido
De acordo com o Edelman Trust Barometer 2024, um dos estudos mais respeitados sobre confiança global, apenas 60% dos consumidores confiam nas empresas como instituição. Esse número é ainda mais alarmante quando analisamos o contexto brasileiro, onde a confiança nas empresas está em 53%. Em um cenário onde marcas lutam por atenção, é revelador que mais da metade dos consumidores globais acredita que as empresas promovem propósitos e ESG apenas para ganhar dinheiro, e não por real compromisso.
O Trust Barometer revela ainda outro dado crucial: 85% dos consumidores afirmam que a confiança é decisiva na hora da compra. Em outras palavras: em um mercado onde a confiança é escassa, comunicação sem substância não apenas falha em construir conexões - ativamente destrói valor.
O caso da Pepsi com Kendall Jenner em 2017 é um exemplo clássico: um comercial que tentou capitalizar em movimentos sociais sem profundidade ou autenticidade. O resultado foi desastroso, gerando backlash significativo e danos reputacionais que levaram anos para serem reparados.
Construindo relevância sustentável
Comece de dentro
Defina claramente seu "Por quê"
Alinhe sua cultura com seu propósito
Desenvolva KPIs que meçam impacto, não apenas alcance
Crie valor antes de comunicar
Identifique problemas reais do seu público
Desenvolva soluções genuínas
Documente resultados concretos
Comunique com propósito
Priorize profundidade sobre frequência
Conte histórias verdadeiras
Mantenha consistência cross-channel
O futuro é dos relevantes
Em um mundo saturado de informação, o verdadeiro diferencial competitivo não está em quem fala mais alto, mas em quem tem algo relevante para dizer. Como Peter Drucker sabiamente observou:
"O mais importante na comunicação é ouvir o que não está sendo dito."
As marcas que sobreviverão e prosperarão na próxima década não serão necessariamente as com maior orçamento de marketing, mas aquelas que construírem conexões genuínas baseadas em valor real e propósito autêntico.
Antes de aumentar seu volume, aumente seu valor. Antes de expandir seu alcance, aprofunde seu impacto.
Em outras palavras: faça sentido antes de fazer barulho.
Excelente texto! Parabéns!