O que Lula e Trump ensinam sobre a força da marca pessoal
Em branding, um dos maiores equívocos é acreditar que “ser amado por todos” é sinônimo de sucesso.
Na prática, as marcas mais poderosas do mundo, sejam corporativas ou pessoais, são as que sabem exatamente quem são, a quem servem e o que representam. E talvez não existam dois exemplos mais evidentes dessa força identitária do que Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump.
Independentemente de ideologias, ambos construíram marcas pessoais consistentes, reconhecíveis e narrativamente coerentes ao longo de décadas. São casos de estudo sobre a relação entre arquétipo, comunicação e percepção pública.
Lula: o arquétipo do Herói Cidadão
O ex-torneiro mecânico que chega à presidência da República é, por natureza, uma narrativa de superação: a essência do arquétipo do Herói.
O que sustenta sua marca, no entanto, não é apenas o feito individual, mas a forma como esse feito é continuamente recontado e simbolizado.
Lula comunica pertencimento, empatia e proximidade. A roupa simples, o sotaque, a linguagem acessível e o tom emocional de seus discursos compõem uma estratégia de branding intuitiva e eficaz: ele fala como e para o povo, e isso o conecta profundamente com seu público.
Além do Herói, há também o arquétipo do Cidadão, aquele que busca igualdade, fraternidade e justiça social. Sua marca pessoal não se constrói sobre autoridade técnica, mas sobre identificação emocional. Ele encarna o “um de nós”, o que reforça confiança e senso de comunidade.
Em termos de estrutura de marca, Lula representa a marca da causa: mobiliza pessoas por empatia e esperança.
Trump: o arquétipo do Rebelde Governante
Trump, por outro lado, é o oposto complementar.
Sua marca é construída a partir da transgressão, da quebra das convenções e da imposição de uma força pessoal acima das instituições. É o arquétipo do Rebelde, misturado com traços do Governante.
Sua comunicação é assertiva, provocadora e performática. Ele domina a narrativa pelo excesso: slogans curtos, repetições, gestos marcantes e uma estética visual que reforça status e sucesso (o nome em dourado, o avião personalizado, o terno e a gravata vermelha).
Trump é uma marca pessoal que vende poder, segurança e controle, valores centrais para quem busca estabilidade em contextos de incerteza. Sua audiência não o segue apenas por afinidade ideológica, mas pela sensação de força e autonomia que ele simboliza.
No campo do branding, ele representa a marca da autoridade: polariza, mas raramente passa despercebido.
A força da coerência
Apesar das diferenças, há um ponto em comum que explica a longevidade dessas duas marcas: coerência narrativa.
Ambos comunicam, há décadas, a mesma essência. Pequenas evoluções de forma, necessárias pela passagem do tempo, mas sem desvio de propósito.
Lula: o homem do povo que ascendeu sem perder o vínculo com suas origens;
Trump: o bilionário que governa como empresário e desafia a política tradicional.
Ambos não buscam ser medianos: são extremos de identidade.
E no branding, o extremo, quando é coerente e crível, gera lembrança, engajamento e legado.
Comunicação como espelho de arquétipo
A força de um arquétipo se revela não só no discurso, mas nos símbolos que o sustentam. Veja o resumo abaixo:
Essa coerência entre forma e essência é o que torna suas marcas tão reconhecíveis. Ambos sabem o que simbolizam e comunicam isso o tempo todo, em cada gesto, fala e decisão.
O aprendizado para profissionais e executivos
A lição, para quem constrói uma marca pessoal fora da política, é direta:
a clareza de posicionamento define o tipo de energia que você atrai.
O profissional “Herói” inspira pela superação e cria empatia;
O “Rebelde” instiga pela coragem e cria diferenciação;
O “Governante” lidera pela autoridade e cria confiança;
O “Cidadão” conecta pela proximidade e cria pertencimento.
Não existe melhor ou pior: existe incoerência ou autenticidade.
E nesse ponto, tanto Lula quanto Trump são exemplos de coerência radical: não performam papéis, vivem suas narrativas.
Lula e Trump ensinam, cada um à sua maneira, que marca pessoal é a tradução pública de uma identidade privada e que consistência vence simpatia.
No fim, não é sobre ser amado, mas sobre ser reconhecido.
A força de uma marca está em como ela sustenta sua promessa mesmo sob pressão, e nisso ambos são, indiscutivelmente, mestres.
Faça sentido antes de fazer barulho.
Até a próxima!
Felipe Gondin