Uma marca, múltiplas conversas: os desafios geracionais
Como construir relevância para todas as gerações, sem perder autenticidade.
Vivemos um momento único na história do consumo. Pela primeira vez, cinco — alguns já dizem seis — gerações coexistem no mercado, impactando as empresas, a comunicação e os negócios.
Cada geração enxerga o mundo por lentes diferentes, moldadas por contextos históricos, culturais, econômicos e tecnológicos. E, consequentemente, também se conecta com marcas, produtos e experiências de maneiras muito distintas.
O erro que muitas empresas cometem?
Achar que basta falar mais alto ou seguir tendências para continuar sendo relevante. Algumas começam a parecer um tio que se veste esquisito ou alguém que tenta exercer sua influência pela hierarquia.
Mas relevância não se impõe. Se constrói.
Entendendo os códigos de cada geração
Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964)
Valorizam estabilidade, credibilidade e relacionamentos de longo prazo. Cresceram em um mundo onde qualidade, atendimento e segurança eram diferenciais — e ainda são. Para eles, prometer e não cumprir é imperdoável.Geração X (1965–1980)
São pragmáticos, questionadores e muito atentos à relação custo-benefício. Não têm paciência para marcas que complicam. Valorizam autonomia, eficiência, transparência e, muitas vezes, preferem soluções diretas ao invés de discursos mirabolantes.Millennials / Geração Y (1981–1996)
A primeira geração que cresceu junto com a internet. Valorizam experiências, propósito, sustentabilidade, diversidade e impacto social. Querem marcas que se posicionem de forma verdadeira e coerente, e que representem causas alinhadas aos seus valores.Geração Z (1997–2010)
Nativos digitais, hiperconectados, multitarefa e donos de uma leitura rápida do mundo. Sabem quando um discurso é autêntico e quando é marketing disfarçado. Buscam agilidade, transparência, participação e diversidade real. São menos leais a marcas, mais leais a comunidades e causas.Geração Alpha (a partir de 2010)
Crescendo em um mundo 100% digital, onde inteligência artificial, internet das coisas e sustentabilidade não são tendências — são dados de realidade. Valorizam experiências sensoriais, imersivas, interativas e marcas que dialoguem com seus pais, mas também com seus próprios interesses e curiosidades.
O que muda para as marcas?
Ser uma marca hoje não é mais sobre empacotar um discurso e empurrá-lo para o mercado. É sobre estar presente nos contextos certos, com as mensagens certas, nos canais certos — e, principalmente, de forma honesta.
O jogo não é mais sobre ter uma única narrativa, mas sim um ecossistema de narrativas, todas alinhadas a um mesmo centro de gravidade: seu posicionamento.
Você não precisa mudar quem é, mas precisa ser capaz de traduzir seus valores para os diferentes códigos culturais. Sem isso, corre o risco de soar velho para uns e raso para outros.
O risco da miopia geracional
A miopia geracional é um fenômeno silencioso — mas extremamente comum — que mina a relevância de muitas marcas.
Isso acontece quando uma empresa, consciente ou inconscientemente, constrói sua comunicação, seus produtos e até sua cultura interna baseados unicamente na visão de mundo de quem a fundou, de seus primeiros clientes ou de uma geração específica que esteve no centro das decisões por muito tempo.
No curto prazo, essa lógica funciona. Afinal, é natural que as marcas nasçam para resolver dores que seus próprios fundadores conheciam bem.
Mas o problema começa quando o mundo muda — e a marca não.
Quando a empresa não percebe que seus códigos culturais envelhecem, ela vai, pouco a pouco, deixando de dialogar com quem representa o presente e, principalmente, o futuro do mercado. Ela se torna uma marca que só conversa com quem já a conhece, já a entende, já compartilha dos mesmos referenciais — e isso é o começo da irrelevância.
O reflexo mais comum da miopia geracional?
produtos desatualizados;
experiências que parecem anacrônicas.
narrativas que não se conectam mais com as novas gerações.
uma comunicação que soa desconectada, ultrapassada ou, pior, forçada.
O grande perigo é que, na maioria dos casos, essa miopia não é percebida internamente. Muito pelo contrário. Dentro da bolha da marca, cercados de pessoas que compartilham dos mesmos valores, idades, repertórios e crenças, tudo é reforçado e ainda parece fazer muito sentido.
Até que não faz mais.
Marcas não quebram da noite para o dia. Elas minguam e se tornam irrelevantes.
A boa notícia? A miopia geracional não é um destino — é uma escolha. E também é reversível para quem tem coragem de se olhar no espelho, reconhecer o problema e redesenhar sua proposta de valor, seus códigos de comunicação e suas experiências de marca.
Consistência ≠ Rigidez
O desafio não é escolher uma geração. O desafio é ter clareza de quem você é e, a partir disso, aprender a se expressar em diferentes linguagens. Sem pudores e sem medo de desfrutar do que os novos tempos têm a oferecer.
Uma marca consistente não é aquela que fala sempre do mesmo jeito. É aquela que tem um centro de gravidade tão forte, tão verdadeiro e tão bem definido, que consegue se expressar em diferentes formatos sem perder sua essência.
O mundo mudou. E está mudando de novo. Sua marca acompanha ou vai virar uma lembrança de uma tempo que já passou?
Faça sentido antes de fazer barulho.
Nos vemos em breve! 😉
Excelente síntese de um fenômeno que acompanho desde 2005 e que em 20 anos ganha estes novos contornos, uma geração a mais neste contexto! Acentua a importância do contexto cultural e de valores de cada geração! A antropologia é a semiótica ajudam a construir as narrativas para cada geração. Parabéns!